domingo, abril 24, 2005

Ponto de vista do dia...

"Estranhos. Seria mais fácil entre dois estranhos. Sem passado e sem futuro, naquele preciso momento. Como se o conhecimento de tudo o que foi e de tudo o que pode ser, pudesse quebrar toda a plenitude. A plenitude lembra a pureza da ignorância; uma paz tão grande que comporta a total abstracção da vida real. Sem expectativas e sem preconceitos. Sem palavras amargas e sem palavras de amor. Sem esperanças nem desilusões. Dois estranhos que se encontram. Que não conhecem a vida um do outro. Que não esperam nada daquele encontro, porque não esperavam aquele encontro, porque ocorreu por acaso. Era tão mais simples que fossemos dois estranhos e que deixássemos a pele falar. Os nossos olhos falar. E que a memória fosse só a memória de outras vidas, que pode estar inscrita mas não é lembrada, como uma criança que não recorda o que se passou nos primeiros anos. Era mais simples que não soubéssemos de todo o nosso passado, de todos os nossos desencontros, e que, só no presente, naquele momento presente do encontro por acaso, tivéssemos vontade de fazer o futuro." Ana Teresa Silva - Jogo de palavras

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