sexta-feira, janeiro 28, 2005

Ponto de vista do dia...

Através da fotografia e da palavra escrita tento desesperadamente vencer a condição fugaz da minha existência, agarrar os momentos antes que se desvaneçam, iluminar a confusão do meu passado. Cada instante desaparece num sopro e imediatamente se converte em passado, a realidade é éfemera e migratória, pura saudade. Com estas fotografias, estas páginas mantenho vivas as lembranças; elas são o meu apoio a uma verdade fugitiva, mas verdade de qualquer forma, elas provam que estes factos aconteceram e estas personagens passaram pelo meu destino. No fim de contas, a única coisa que temos na totalidade é a memória que fomos tecendo. Cada qual escolhe o tom para contar a sua própria história; teria gostado de optar pela clareza duradoura de uma impressão em platina, mas nada no meu destino possui essa qualidade luminosa. Vivo entre matizes difusos, sobretudo misteriosas incertezas; o tom que conta a minha vida ajusta-se mais ao de um retrato a sépia. (Isabel Allende - Retrato a sépia)
É absolutamente encantador este romance de Isabel Allende, na sequência de "A casa dos espíritos" e "Retrato da fortuna"... Recomendo vivamente, sobretudo, a quem gosta de histórias cheias de grandes segredos de família, personagens ricas pelo seu mistério e incerteza...

Sem comentários: