terça-feira, agosto 24, 2010

Ponto de vista do dia...

Porque não há listas de faróis, de perigos e de sinais para navegar terra adentro. Não há roteiros específicos, cartas actualizadas, cartas de baixos em metros ou braças, alinhamentos com este ou aquele cabo, bóias vermelhas, verdes ou amarelas, nem regulamentos de abordagem, nem horizontes limpos para calcular uma recta de altura. Em terra, navega-se sempre por estima, às cegas, e só é possível ver os recifes quando ouvimos o seu rumor a um cabo da proa e vemos clarear a escuridão na mancha branca do mar que quebra nas rochas à superfície da água. Ou quando ouvimos a rocha inesperada – todos os marinheiros sabem que existe uma rocha com o seu nome, espreitando em qualquer parte – a rocha assassina, cortar o casco com uma estridência que faz estremecer as anteparas, nesse momento terrível em que qualquer homem ao comando de barco prefere estar morto.


Arturo Pérez-Reverte – O cemitério dos barcos sem nome

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